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O que é orientalismo?

Aviso de conteúdo: Este texto toca em assuntos como colonialismo, guerras e estereótipos racistas.

Orientalismo é um fenômeno onde tudo o que é considerado "o oriente" (geralmente partes da Ásia) é retratado como parte da mesma cultura, de uma forma retratada como exótica, mística, possivelmente perigosa e presa no passado.

Foi um conceito cunhado por Edward Said no livro Orientalismo – a Invenção do Oriente pelo Ocidente, publicado em 1978.

Existem várias formas de orientalismo: existem vezes que culturas da península arábica e do subcontinente indiano se misturam, e também vezes que culturas da Índia, da China e do Japão se misturam, por exemplo.

Este não é um fenômeno que acontece apenas com a Ásia, embora geralmente o termo orientalismo só seja usado neste contexto (ou no contexto da mistura de culturas asiáticas com culturas do norte da África). Também é comum, por exemplo, que a África seja vista como um lugar que só tem uma ou poucas culturas/formas de viver específicas, ou que povos indígenas das chamadas Américas sejam colocados como uma coisa só, ou no máximo divididos entre estereótipos específicos - mas não muito diferentes - de regiões tropicais e de regiões montanhosas.

Porém, como não há um nome específico para estes fenômenos, não consigo pesquisar nada sobre de forma específica, e não tenho nada a falar fora que nenhum grupo espalhado por uma área grande vai ser culturalmente homogêneo, por mais que possam haver similaridades superficiais entre certos povos.

O termo orientalismo não é ofensivo, já que é especificamente sobre considerar uma grande quantidade de povos/países como um/o "Oriente", e não sobre chamar pessoas asiáticas individualmente de orientais. Da mesma forma, é errado chamar toda forma de racismo contra pessoas asiáticas de orientalismo, já que este termo se refere a um fenômeno específico dentro disso.

Dentro da lógica orientalista, o "oriente" é contraposto com o "ocidente", de forma que coloca valores da supremacia branca como centrais, normais e progressivos. Assim, orientalismo é utilizado para justificar a ocupação ou colonização de países asiáticos em nome de liberá-los de suas culturas "primitivas".

Orientalismo é usado para desumanizar pessoas de culturas vistas como "de um outro mundo", de forma que prejudica o entendimento de questões políticas ou culturais específicas de cada região, e cria estereótipos que prejudicam a interação com pessoas que parecem pertencer às culturas afetadas.

Orientalismo é perpetuado pela mídia e por outras formas de propaganda (por exemplo, a disponibilidade de fantasias que perpetuam estereótipos em lojas manda a mensagem que está tudo bem se fantasiar de tal forma), mas suas consequências não começam ou terminam nesse tipo de representação.

A demonização da resistência palestina contra Israel, por exemplo, usa os estereótipos orientalistas de "terroristas árabes de uma cultura estranha e violenta" para manipular a opinião pública. A mesma coisa acontece quando países que se beneficiam com o colonialismo tomam medidas racistas contra refugiades, imigrantes e/ou pessoas muçulmanas em nome de "reduzir chances de ataques terroristas" ou "libertar mulheres da misoginia de seu povo".

Orientalismo contribui com a marcação e exploração do que é exótico: culturas, tradições, etnias e suas características são reduzidas a estereótipos e retratadas como misteriosas e diferentes, o que contribui para que pessoas brancas consumam e e explorem tais elementos sob sua própria visão colonialista, enquanto justificam que "o oriente" deve ser um lugar primitivo com uma cultura totalmente diferente que não merece ter controle criativo sobre a retratação de sua própria cultura.

Desta forma, o capitalismo se aproveita do orientalismo para vender práticas como acupuntura, Fengshui, artes marciais e Yoga separadas de seus contextos originais mas acompanhadas de contextos que esoterizam tais práticas, para vender livros de autoajuda baseados em "sabedoria oriental", para vender histórias inspiradas em "mitos orientais" refeitas para que atendam a gostos brancos e por assim vai, descaracterizando artes e ciências específicas a certos povos. Isso também se relaciona com apropriação cultural, principalmente porque é comum que sejam pessoas brancas aprendendo tais práticas e se colocando como "mestras" delas.

Basicamente, é comum que a "cultura oriental" seja respeitada e admirada, enquanto pessoas pertencentes a tais culturas não sejam vistas como dignas de respeito. Também é comum que retratações "do oriente" se baseiem mais umas nas outras do que na realidade dos territórios e/ou das culturas em questão.

Enfim, espero que quem esteja lendo e que nunca tinha prestado atenção nisso reflita sobre como culturas asiáticas são retratadas na mídia, ou sobre como aspectos de culturas asiáticas são separados de seus conceitos culturais, exotificados e comodificados, e pense antes de falar coisas como "adoro estéticas orientais".

Isso inclui o uso de nomes asiáticos (ou que parecem ser asiáticos) por serem "diferentes e legais", a utilização de conceitos como carma ou zen como sinônimos "mais místicos" para retribuição e tranquilidade respectivamente, o consumo de produtos com alfabetos de origem asiática por serem diferentes/bonitos/estéticos/exóticos, a curiosidade por experimentar a comida de "restaurantes asiáticos" que muitas vezes misturam diversas culturas e/ou são comidas preparadas para agradar o paladar local, especialmente em busca de "supercomidas" que garantem mais saúde, a separação de mídia asiática como gêneros separados de forma que não aconteceria com mídia europeia ou de outros países influentes e por assim vai.

Fontes:

Aviso: Devido ao assunto em si, presuma que as fontes falem sobre racismo, estereótipos racistas, colonialismo, guerras e sobre partes da história que envolvem estes assuntos. Algumas das fontes também podem conter aspectos problemáticos que não são relacionados a esses assuntos (como misoginia ou capacitismo casual).

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